Entre projectos e sons distintos, Ricardo Remédio asume-se como um dos grandes nomes prolíferos da música alternativa portuguesa. Dando-se a conhecer em 2007 com a fundação em estúdio dos , o icónico synth da banda lisboeta estreou-se a solo com Rei Abvtre (RA), EP lançado em 2012. 



Ainda que se apresente num registo largamente diferente do apresentado com os LÖBO, "Natureza Morta" de Ricardo Remédio é um novo ponto de partida enquanto projecto a solo que balança constantemente a derivação e a reafirmação.  



Já em RA é claro o aprofundar de estilos que marcavam o som rico da banda Doom de Lisboa, mas é com certeza em "Natureza Morta" que Ricardo Remédio desenvolve na primeira pessoa este ideais em completo foco. Os sons de convite ouvidos em temas como Alma e Nöite ganharam corpo nesta ventura homónima, com solidez para se susterem formalmente num LP imaginativo e ébrio   

Durante oito faixas, Ricardo Remédio embarca num exploratório negro agora severamente contempelativo e naturalista. Produzido por Daniel O' Sullivan dos Æthenor e masterizado por James Plotkin (Khanate, Scron) "Natureza Morta" abre portas por um caminho tecnho industrialista na sua faixa de entrada "Banquete" no entanto esta como um pouco de todo o álbum é sistémicamente progressiva revelando soslaios abientais associados ao Drone, como o próprio revela em entrevista, a certa altura deixa de fazer sentido pensar em estilos em "Natureza Morta", mas sim vê-los como uma ferramenta de subconsciente que alimente o fio condutor da música.





 "Ossos" confere uma maior aura noir cyberpunk através do seu trabalho de sintetizadores e uma batida contrabalançada. É também nesta segunda faixa que encontramos dentro dos mesmos traços, diferentes camadas para Natureza Morta, o momento de expansão do álbum por assim dizer.



"Garça" e "Caça" são faixas irmâs, vejo difícil separar as duas, como capítulos intrínsecos da mesma história, aqui coloca-se de lado as batidas efusivas para se trabalhar um
"dream state" profundo. É nestes minutos que começamos a enteder "Natureza Morta" muito mais como um álbum conceptual do que como uma compilação de ideias. Um álbum de além-mente. Isto pelo menos até à linha dos quatro minutos de "Caça" em que Ricardo Remédio levanta o pano para um transe Boiller Room, mas muito bem merecido na forma como faz evouluir a faixa neste sentido.





"Suor Nocturno" é um indelével jogo de ruido ritmado, uma alegoria de homem-máquina inquietante. É uma faixa física que termina tal qual pesadelo, como se de um contar de segundos para o amanhecer se trata-se.




Em quanto baste o drone aparece aqui e alí em "Vigília" adornado pelos vocalismos que lhe conferem um certo misticismo já de mão dada para "Enfermo" um outro sonho de "Natureza Morta".  Ao longo de todo o álbum, a doença é constante, todas as faixas sangram umas nas outras, o som de cordas friccionadas de "Enfermo" são o sumo disso mesmo, a disparidade dos inserts vocais nesta faixa são apenas de génio, impossivél não sucumbir ao álbum inteiro com esta penúltima faixa.




"Rei Morto. Rei Posto" é desde o primeiro reverb uma conclusão, de alguma forma isso é extremamente claro, talvez pela forma em que parece sumarizar todas as emanações das últimas 7 faixas.  Há uma explosão rica de instrumental, as teclas de um synth cadente atam a melodia com a batida electrónica. Sobem-se as vozes e somos feitos projecto final destes sons, uma fusão arrepiante da música com espectador, advinhamos naturalisticamente a música em que sem dar por isso nos vimos ser intérpretes. 


Em suma,  este é um trabalho concreto. "Natureza Morta" é um deambulatório de sensações fantástico que transcende quaisquer gênero a que possa estar a ser submetido. Rebelando-se contra a forma, Ricardo Remédio afirma-se aqui como um artista a solo de peso e perzpicaz creatividade.




Em edição de análise estivemos a ouvir "Natureza Morta" em formato físico CD lançado este ano pela Regulator Records, originalmente editado em Flash Drive personalizada pela Dissociated Records.




Neste novo formato, a temática mantém-se agora orquestrada por Mariana Castro que dá continuidade ao trabalho da artista Marta Macedo que trabalhou o release original.
CD não é a única vertente física neste Repackaging feito pela Regulator Records, disponivél também estão quatro versões distintas do álbum em cassete.




Podes encomendar a tua versão aqui