A calma inicial do baixo e dos restantes
instrumentos que se seguem deixam adivinhar a força da música que estamos
prestes a ouvir.
Com a sofisticação de toda uma arquitectura sonora- trabalhada
ao longo de várias décadas, e estudada com afinco na última- "The
Chronicles of Three Sociopaths - Soundtrack - Part I & II" é uma
lufada de ar fresco a todos interessados em música.
Com uma sensibilidade apurada, os arranjos bem
trabalhados conduzem os temas através de várias dimensões artísticas. Entre o
ritmo natural deste álbum está uma sede de descoberta.
Somos, muitas vezes,
surpreendidos pelas deslocações harmónicas nas várias músicas. Mas, ao mesmo
tempo, existe uma consistência. Tal como na infância nos encontramos fazendo
questões, também os músicos parecem ter feito o mesmo. “ E se?” Devem-se ter
perguntado ao longo de toda a composição. Por isso não estamos apenas a ouvir
músicas deslocadas umas das outras - sem uma forma ou ideia por detrás. Na
realidade estamos a observar o processo criativo a desenrolar-se. E isso já é
cola o suficiente.
Mas, não só de música vive o álbum. Desde o título
da obra, ao número simbólico de músicos à apresentação dos intervenientes- de
um modo radiofónico, altamente personalizado, dirigindo as nossas convicções
enquanto ouvintes para, tal como um guia turístico, escolher aquilo a que
estaremos atentos mais à frente: “ check
the last piece of the second part” diz-nos o cicerone, em tom quase
elogioso, relativamente à actuação do saxofonista na última faixa.
E nós ouvimos com a devida atenção. Um álbum em que
toda a possível inexperiência se transforma em esforço delicado. Em que nada
parece forçado e ninguém parece ficar de fora. Cada nota é tocada em decisão. E
cada nota serve a sua única mestre: a música.
Em suspenso, esperamos por mais do sexteto. Por
enquanto temos um álbum para a eternidade.
Escrito por João
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