É algo dito e re-dito...estes "mans" são bons! 


Fernando é provávelmente um dos melhores e mais refrescantes trios "In your face" a surgir do novo underground português desde que os Killimanjaro assinaram com a Lovers&Lollypops. 



O seu disco é "Fernando", um LP self released em 2018 repleto de coisas boas, desde o puxar de um stoner melindrado dos Wo Fat a remates mais contemporâneos de Joshua Tree e humores confessos de Frank Zappa num acto que não se leva muito a sério mas que é mais que merecedor da tua atenção.




Um álbum menino de quatro meses e oito faixas de riffs à desfilada e vocais compulsivos que voltam sempre para mais uma rodada, há que comparar este álbum se a algo, que seja a um pacote de batatas fritas acabadinho de abrir, desculpa mas não me peças para tirar só uma, sê amigo que o pacote vai todo.

   
Estivemos por isso à conversa com o seu vocalista e mentor, Nelson Rodrigues


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Vocês são Grandes!, há dois dias atrás somaram 30000 visualizações no vosso álbum de estreia no SMOD. Com todo o respeito 
aos tributos ao Zé Pedro e  visto que já passaram mais de dez anos desde os primeiros EPs dos Arctic Monkeys. Aquilo que as pessoas deveriam perguntar em 2018 é “Who the Fuck is Fernando”?
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Maybe, não sei! (risos) Ya, o Zé Pedro infelizmente já não está entre nós  e por isso já não podemos contar com ele para coisas grandes...Os Arctic Monkeys estão num caminho que só eles sabem, por isso se se somos o futuro não sei responder. Eu sou um bocado suspeito para falar disso não é, porque estou dentro da banda (risos), mas o burburinho que o lançamento do álbum criou excedeu todas as nossas expectativas.



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E já agora, para quem não sabe mesmo, estamos a falar com um gajo chamado Nelson Rodrigues, afinal quem é que é mesmo este Fernando?  
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Epá, o Fernando é um gajo qualquer, podes ser tu, é a pessoa comum. O nome "Fernando" foi criado para a banda com uma intenção puramente humorística (risos). Porque eu pensei assim, se é preciso dar-lhe um nome, porque não um nome próprio? É um nome! E por isso foi dar-lhe um nome como quem dá um nome a um filho, primeiro pensei em Rui. Mas depois não, Fernando! Fernando tinha assim um nome mais duro. Este Fernando parece-me um gajo duro, e depois comecei a imaginar quem seria este Fernando e isso deu-me o mote para escrever o primeiro tema que viria a ser também o "Fernando"


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Estamos aqui nos Silos nas Caldas da Rainha, e “Fernando”, falando do álbum, é basicamente uma cena home made, este é o berço da Banda? 
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Completamente home made, os Silos é onde temos a nossa sala de ensaios, armazém de material e também estúdio de gravação do álbum, por isso é todo ele feito aqui. Se não tivesse este espaço aqui não tinha sido possível fazer surgir este projecto. Os Silos aqui a desempenhar um papel importantíssimo nisso.





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Vamos falar de letra e do processo criativo, “Brothers” “Fools Captain”…isto nos concertos dá para a brincadeira, mas isto são tudo coisas muito polidas, como é que foram surgindo estas músicas?
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Ora bem, no processo criativo a música surge sempre primeiro que a letra, é bem mais fácil para nós se tivermos já um riff, uma coisa que delimite a métrica da voz ou que dê mote a uma melodia. É bem mais fácil quando já tens um mapa da melodia de como é que a voz pode assentar num certo tema musical. É mais fácil escrever assim, sabes que vais escrever para aquela caixa, para aquela forma. Para aquele ciclo melódico que a música já te impõe. E muitas vezes a cena que acaba por acontecer até naturalmente é que a própria música, o ambiente dos riffs, gera-te uma ideia e pego a partir daí e escrevo já de acordo ao que música me dá. Às vezes até quando estou a imaginar a melodia da voz, começo assim a balbuciar umas coisas desconexas e que ache que até fiquem bem naquele ritmo ou com aquela cadência e essas palavras sugerem uma ideia que depois desenvolvo. E normalmente com "Brothers" ou "Fool's Captain" são normalmente experiências que nós vivemos, algumas pessoais outras nem tanto, a primeira pessoa da música não sou eu propriamente. Mas são coisas que nos rodeiam, o comportamento humano.


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Aqui já a entrar na imagem, o artwork feita pelo o Gatuno, pelo Diogo. Ali nas bordas o Sol e Lua nos cantos, isto é já para avisar que quem se põe  a ouvir Fernando fica a repetir isto de Sol a Sol? 
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Elah, nunca tinha pensado nisso (risos) Mas lá está, a arte tem destas coisas! Mas sim totalmente a ideia do ciclo, tá' lá implícito e claro. E até o artwork que o Gatuno desenvolveu excede a capa... o que se conhece até agora é a suposta capa do álbum, mas ele fez mais do que isso, ele fez o artwork  para uma possível edição física do disco caso ela fosse editada em CD ou até em Vinil, nós temos aquilo que será a label, a bolacha do CD e tem um sol, assim uma cena circular o que ya... Eu próprio, nós gravámos o disco nós mesmos e fizemos tudo, desde a hora da mistura até ao momento em que o disco foi lançado. E quando acabou eu pus o disco de parte e não o quis ouvir mais, agora à uns dias, recentemente por algum motivo alguém pôs o disco a tocar e eu comecei a ouvir aquilo e epá...tava' assim meio hipnotizado: isto tá' fixe! (risos) não está a soar mal de todo!
Porque a partir do momento em que lanças uma coisa para a rua, há um descontrole sobre a cena e nem vale a pena estar a ouvir mais, o que está feito está feito. E eu sou um bocado doentio, mas chega uma altura em que tens que dar a cena por terminada. E chegado a esse momento tens que saber te desprender.


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Durante quanto tempo estiveram a trabalhar no álbum?
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Talvez um ano, desde que começámos, claro que não foi um ano inteiro com o disco,  porque infelizmente "Fernando" não é a única coisa que fazemos Mas sim foi um ano desde que começámos as primeiras maquetes e a misturar. Podíamos ter levado menos tempo a lançar o álbum mas queríamos que soa-se bem e eu também dei-me ao trabalho de gravar as guitarras 3 ou 4 vezes porque não tinha esse limite de tempo porque estávamos no nosso próprio espaço. Na primeira vez, foi assim com dois amplificadores e vi que tinha um amp a mais e que não precisava. Da segunda já foi um amplificador com três microfones e depois não... vi que isto não precisava de tanta tralha até chegar aquele momento em que ok, é isto que a música requer.



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Porque isto é o vosso álbum de estreia não dá como contornar isso. Oito faixas de uma pujança tal, que é difícil encabeçar uma delas como “a tal”.
Houve alguma coisa que ficou de fora no primeiro lançamento? 

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Hum...houve, acho que não é algo que possa dizer que estivesse propriamente acabada no momento de lançamento do álbum, mas já há montes de ideias para um potencial futuro álbum... 



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Sim, até porque ao vivo é mais que sabido que há aí música a dar com pau para um segundo EP ou novo álbum. Para quando é que isto é uma realidade?
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Sim exacto, já tocámos aí umas 3 músicas ao vivo que não estão no disco. Epá talvez  para o principio do ano que vem. Porque o que aconteceu foi que o álbum saiu e tem estado a ter alguma visibilidade mas infelizmente como "Fernando" não é o nosso day job,  temos que gerir o nosso tempo livre um pocado com outras actividades. E para já  não conseguimos ver o álbum ao vivo muito porque além do trabalho que faço ligado à musica para além de "Fernando" é muito mais intenso agora durante o verão. E quero trabalhar o máximo possível nisso para juntar dinheiro para a coisa acalmar e talvez no princípio do Inverno conseguir fazer uma pequena tour com os "Fernando" e poder arriscar-me a não ganhar dinheiro nessa altura, porque toda a gente sabe que no circuito underground não há muito dinheiro a circular. Por isso queríamos fazer um bloco, um principio e fim sem ter que estar sempre a voltar para casa.

Depois de fazer essa tourné de apresentação do primeiro disco ao vivo, é regressar à base e fazer o próximo. Estamos a ver para  Janeiro.



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Vocês têm um bichinho a circular online...o que é "A Fernando's Tale"?
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"A Fernando's Tale"! (risos) foi que, a gente esteve aqui agora a congeminar um video...pronto fazer um video-clipe, esse termo ainda se usa? Não sei...



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Chamemos-lhe um tele-disco...
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Antigamente era um tele-disco, depois virou video-clipe... mas ya (risos) Tivemos a fazer um video com uns amigos nossos que trabalham aí com video da Reaction AV. Eu estava à procura aí de alguém para fazer video para um dos temas. Epá e nós falámos disso e ya metemos a coisa a rolar, fizemos o video e está agora em fase de edição e essa "Fernando's Tale" que nós partilhámos era um videozito da gravação do suposto videoclip que vamos publicar.
  


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"...and in to the nowhere I go" Tens ideia que ia haver muita gente chateada se isto viesse a ser verdade...
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Epá, mas não é! Fernando está para durar até porque "Fernando will have it his way!". "Fernando" é para durar! Aliás, isto tipo aquele projecto de sonho que nós nunca fizemos, até porque já não somos rapazinhos novos, especialmente eu e o Pedro, o baixista, ele é um ano mais velho que eu que vou fazer 40 anos no domingo que vem (risos).

 E nós esperámos uns anos...isto era uma ideia, de fazer um projecto como este há muito tempo, mas entretanto a vida mete-se no caminho. Mas chega ao ponto em que é do: "tem que ser agora ou então já não é!". E agora que está feito, pá' já descobrimos o caminho para lá. Agora que sabemos como pôr isto a funcionar, ah isto agora é para durar porque dá perfeitamente para conjugar com as nossas vidas e levar para a frente. Isto é Fernando, Fernando é isto: coisas da vida!



Fotografia: Nuno Conceição