Já era de a 365 dias o último convite para participar desta onda Stoner minhota picada de pôr do sol litoral, mas só este ano consegui embrenhar neste festival que já vai na sua 8ª edição e com um longo histórico de trazer a este cenário alguns dos maiores nomes do Stoner.

Nesta paradisíaca aldeia do distrito de Viana, em fronteira com Espanha e com o atlântico nortenho, Moledo vislumbrava-nos com a sua essência heterogénea muito bem representada pelo horizonte que se observava a partir da praia – as casas da Galiza que despontavam nos “pés” de um pequeno monte que se encobria em nevoeiro pela manhã e o contraste com a paisagem lusa, mais branca…mais praia. Isto também se verificava com as diversas opções - campismo, praia, música, piscina e todas as outras actividades que quem ali estava podia gozar. Eu sei que agora já estou se calhar a repetir a cena do variado, mas…o público também era bem misto e podia se perder a contar o número de hermanos que faziam sentir presença nesta harmoniosa Blast de heterogéneos. Perdão.




Enfim, este ano o acesso ao festival tinha sido facilitado com a CP a oferecer 30% de desconto para os festivaleiros com rota Moledo. Não sei se esse foi um fator revelante, mas este ano viu-se um aumento significante na lotação - era bem visível no parque de campismo, entre os pinheiros, que se tornava sobre popularizado, mas que acolhia todos e apresentava muito boas condições. A começar pela área balnear, as casas de banho, a área dos lavatórios e a banca de troca de bilhetes que se encontravam todos logo à entrada do campismo.

Dia 9, dia de Warn up. Cheguei já sem presenciar os dois concerto durante a tarde, mas as 23:00 era já lotação a rebentar com as portas do café “ Ruivo`s ”. Quem não conseguia entrar ficava lá fora com mais metade do pessoal a ouvir os tugas Pledge e os também ibéricos Acid mess que aqueceram não em demasia, mas a escaldar com direito a crowd surfing e a subida no teto do coitado do Ruivo`s. Já abriam a prometer muita cabeçada durante a noite e um Chill desnorteado pelo dia. Com o som a cerrar o hardcore, encerrava-se o aquecimento e partíamos em um caminho tão festeiro quanto calmo em direção as tendas para que fosse preparado o dia 10.




Primeiro dia com doze bandas a ocupar as próximas horas - 6 a tarde e outras 6 a noite. Como seria de esperar, recessão aos vários campistas que se acomodavam recentemente e pedalavam já às 13:00 para o palco da piscina. Na entrada, fácil acesso as várias barracas de comida, que aliás eram muito boas e variadas, para agradar tugas, panhois e arredores. Já logo ali também uma banca de merchandise e a zona dos bilhetes e pulseiras. Muito facilitismo para seguir afincadamente a “Tropicalia Stoniana”, se me permite.




Pé na agua, pé na relva, Sol na cara e Solar Corona em todo o resto a abrir às 13:30 as portas psicadélicas provenientes de Barcelos. Brisa em sentido de odisseia espacial que é bem sugerida pelos seus dois álbuns “Innerspace”(2013) e “Outerspace”(2014). 



Atmosfera modelada e preenchida também pelo seu Ep “Specimen Days” de 2016, composta por riffs que em velocidade constante arremessavam o ouvinte a este ambiente que já referi. Este trio liderado por José Gomes, integrante dos Kilimanjaro, viria a dar o seguimento aos Desert Smoke - quarteto que trouxe consigo um deserto repleto de vertigens dilacerante e que compulsivamente sopra uma tempestade de areia sonora.





 Apresentaram temas do seu fresquíssimo EP “Hidden Mirage”, que tocou em desfoque com toda aquela abundância de verde e de água, naquele local que agora já se encontrava repleto de massa humana a procura de banhar-se para se manterem coerentes.






















Ainda; agradavelmente, era pouco depois das 15:00 e, pecado meu…pecado meu em ficar só agora a conhecer o grupo que veio lá de Algeciras, Espanha. Atavismo, banda que traz uma onda de velha guarda, com sabor a progressivo e suor a psicadélico com seu Groove implacavelmente deslizante cantado em idioma espanhol. 






Desponta como um grande nome na sua área e nos deliciou com o seu álbum de 2017 “Inerte”. Entendemo-nos. Lá se foi a sobriedade enquanto sobressaltava o Baixo em ritmo Bounce constante em entrelaçado com uma guitarra que ora chorava, ora ordenava.




O porto também marcava presença com os Astrodome a trazer um céu nocturno em pleno dia. Um instrumental oscilante que fazia surgir em tal ambiente uma sensação de flutuar em espaço apenas ocupado pelos astros, longe, mas com estadia vincada.






 Este Doom refrescante equilibravam os ânimos ao mesmo tempo que elevava a fasquia. Contam com dois álbuns - O auto intitulado de 2015 e o álbum “II” de 2018.






Último som por hoje no palco da piscina - Eletric Octopus a condizer com o sol que já não ofuscava, tocavam um Jam Stoner “jazzístico” cristalino. Um céu limpo e de fácil acesso perante um público que ia se aquecendo a beira da piscina. 






O certo é que era tempo de ir para o palco principal porque isto aqui é assim, sempre em movimento, sem quebras para não perder sequer um nome deste cartaz que simplesmente, excedeu-se.



Após uma rápida visita as barracas de comida, ao entrar no vasto recinto, revestido por relvado e algumas árvores, encontravam-se no palco principal os Conan a destilar o seu Sludge medieval e totalmente harmónico maléfico. 
Guitarras completamente distorcidas acompanhadas por vocais melódicos que pareciam gritar do fundo de uma caverna em sentido de te atrair para o desconhecido. Provenientes da terra dos Beatles e com ascendência sonora viking, ditaram a decadência do sol para que a noite se lograsse.



Lograr era já destinado e o céu azul que tendia para o escuro abrira espaço aos Ufomammut, trio Italiano que é escusado de muitos adjetivos! 



Simplesmente intragável em todo o seu bom sentido. Um Doom pesadíssimo com passadas grossas e ríspidas que obrigam a um headbang mordaz. Sludge como nos velhos tempos com picardias de música drone, calhava como pancadas para deixar os ouvintes em estado de graça em meio a um cenário paradisíaco - em meio a aldeia, em um sítio elevado onde se vislumbrava ares de praia e de abundantes zonas de vegetação e pequenos montes.




Perante este cenário inseria-se uma essência californiana trazida pelos Nebula, que sinceramente, faziam sentir o Stoner californiano só de lhes dar um lance de olhos. 






Eu queria aqui também falar do céu outra vez mas penso que é melhor relatar que este gajos não vieram aqui apenas para tocar, mas sim para te fazer surfar e realizar algumas manobras de skate nos seus riffs descaradamente californianos que carregam pura vibe de hard rock. Já é longa a trajetória da banda que está na ativa desde o fim dos anos 90 e contam com membros dos Fu Machu.






Causa Sui? transgressão existencial? Bem, parece que sim. 






Formação dinamarquesa já muito diversa na sua forma de criar música, exalam experimental Krautrock embriagado de psicadélico. São longas, mas de bom tamanho as sessões de interiorização deste Jam que flui tão harmoniosamente em territórios mais reservados.



 Nesta intimidade musical que contrastava com o que tinha se presenciado anteriormente, sentia-se a brisa nortenha que esvoaçava cabelos e que se aconchegava entre o vasto publico que se viam em projecção astral de pé ou sentados pela relva da margem lateral do recinto.








Samsara Blues Experiment seguiu o estado de transcendência, agora mais pesado e com doses derramadas de Woodstock, cravavam o imaginário em uma jornada flutuante em riffs rápidos e intensamente cortantes.




 Seria de dizer que se tragou com os ouvidos os clamores das deusas psicoativas. Pudemos curtir o seu primeiro álbum, que possui um título mais do que sugestivo, “Long Distance Trip” de 2010.








Era por volta da 1 da noite. Samsara encerrava o seu concerto e Mantar preparava-se para encerrar o dia 1º Do Sonic Blast 2018 mas infelizmente, por condições adversas não consegui acompanhar os alemães provenientes de Hamburgo. Era altura de apanhar um ar mais fresco a caminho do parque de campismo que parecia estar sempre em atividade. 



O 2º dia se avistava e como este festival dá-te uma dose pesada de tudo que é bom em apenas 2/3 dias, os habitantes do Sonic devem manter-se sempre em alerta para não piscar os olhos e perder o melhor que o Sonic Blast tem a oferecer.


Texto: Neobert Laureano
Fotografia: Francisco Felício