De ressaca causada pelo excesso sonoro que se consumiu durante toda a metade do dia anterior, compulsiva e desenfreadamente, partíamos com feições animalescas ainda conservadas, resultado do ainda presente Doom, afinal são apenas algumas horas de uma pequeníssima pausa.

Era dia 2 de Sonic Blast e subindo pelo caminho que cortava a linha do comboio, dirigíamo-nos para mais uma sessão no palco das piscinas. Próximo a nós, um sujeito que equipado com apenas uns calções e a metade de um melão na mão, nos acompanhava e pedia uma faca a quem passasse, afim de que o seu melão fosse cortado. Realmente uma vida simplória, mas repleta de riquezas nesta aldeia de Moledo.




Chegando no recinto e olhando para a zona do merchandise, estavam alguns membros dos Black Wizards a representar a Fuzzy Eye, marca alternativa de roupa criada pela sua vocalista Joana Brito. Uma boa maneira de atrair atenções para as barracas, um concurso a ver quem tirava o melhor riff. 

Esta presença descontraída e de fraternidade era uma constante, muitos músicos ficaram ainda pelo festival a usufruir e a acompanhar os acontecimentos, tal como quem pagou bilhete. De fato o espírito do Sonic radiava junto ao sol e todos pareciam alinhar em umas férias “tropicais” repleta de companheirismo e paulada na cabeça.




Agora que já sabes que de fato o ambiente para estes lados é excelente, é necessário passarmos as 13 horas e tal, hora de se esvair em sonoro. The Wizards a começar já muito agressivo e em galope com seu modo metal mais velha guarda e vocais melódicos. Estes senhores bascos tiveram seu último lançamento em 2017 intitulado “Full moon in Scorpio” que conta com toda a essência metal dos anos 70´s. Simplesmente um começo em memorando dos nossos antecedentes metaleiros.












Ah! Estes gajos do Talea Jacta! A seduzirem e a afastarem-se logo de seguida como quem não quer a coisa. Era em interrupções que iniciavam o concerto, mas lá conseguiram ceder o mel e pudemos apreciar esse produto do Porto.




Um Duo multifacetado composto por Pedro Pestana e João Pais Filipe que conta com muitos projetos no seu currículo. “Desenharam” e produziram “curtas metragens” sonoras que se estendiam e recitavam, em andamento, espaços dissonantes.






Agora às 15 e tal atuava um duo português portuense chamado Greengo. Mas que isto! Dois gajos apenas, a fazerem valer e a partir tudo! “Sludge Stoner Metal” dizia o panfleto, mas esqueceram do Trash. Com vocais graves e roucos, bateria em pancadaria e baixo a comer o ar a volta, levaram o público a mandarem-se para a piscina e realizarem uma espécie de moche aquático. 





Mergulhos e todo tipo de agressividade para com a água foi necessário e os Greengo erguiam os níveis das hormonas para o resto do dia.











Ruff Majik a convidarem um sujeito que se encontrava na plateia para um passeio pelo Groove Sul-Africano. 








Um Fuzz a percorrer pelo Blues Stoniano que permitiu uma assimilação do seu último álbum lançado este ano “Seasons”. Apesar de concerto anterior dos portuense Greeengo ter sido avassalador o grupo Sul-Africano manteve a fasquia bem elevada e permitiu a mais algumas pancadas na piscina. 








Foi breve a estadia do convidado, o mesmo também serve para os Ruff Majik, que com toda a sua qualidade e reconhecimento ficou pouco tempo, seguindo assim aquele velho ditado que diz - “Tudo o que é bom dura pouco”.





Pelas 17 era altura dos Purple Hill Witch engrenarem no último movimento no palco da piscina neste Sonic Blast 2018, mas infelizmente não se fazia tempo propicio para acompanhar este Doom Norueguês. Com muita pena em não conseguir inalar este Fuzz nórdico, parti em direção aos Naxatras no palco principal.



Naxatras, da terra dos deuses do Olimpo, despontava com o seu crescendo musical, munido da sua filosofia zen e acolhedora que lhe convida a jornadas de descobrimento por sítios mais despidos. Sendo um dos nomes que mais salta a vista em todo o cartaz, este trio mediterrânico correspondeu ao esperado e foi muito bem aclamado pelo publico. 






Em território de pura harmonia entre hard rock, psicadélico, stoner, progressivo, funk e jazz era de maneira pacifica e dinâmica que se verificavam as transições entre os temas que tinham o mesmo impacto sobre os festivaleiros, denunciando um tipo de ligação banda/publico mais discreta e transcendente.










Muito recentemente, lançaram o seu terceiro álbum, mas é desde “Naxatras” (2015)  que o seu trajecto tem sido um de enorme ascendência, entrando na vanguarda do Stoner. Parecia não ter melhor condições de ambiente, climáticas e musicais, estava lá tudo e o fim do concerto, que muito depressa passou pela ilusão temporal das várias jornadas a que fomos arremessados, passavam pouco depois das 19 e a próxima banda já estava pronta a dar o seu contributo.






The Atomic Bitchwax a não perdoar e a entrar com os seus riffs acelerados e a obrigar a todos a estar com os olhos bem abertos. Totalmente descarados, expeliam todo aquele rock`n`roll desgovernado e avassalador que trazem nas veias. Com uma  Blast repleta de induções a cometer actos em puro nome do rock à paulada, “explodiram” em pleno palco trazendo muita energia catapultada pelo seu álbum autointitulado de 1999. 





Já muita experiência e trabalho em palco, destes para-sempre-jovens que já contam com 8 lançamentos. Como se cheira, vieram dos Estados Unidos, mais precisamente Nova Jersey. Enquanto os The Atomic Bitchwax iam pondo a juventude como deve ser, iam os integrantes do Nebula na parte relvada atras do palco, curtindo e a aproveitar descontraidamente todo aquele ambiente acumulado de energia que agora se implodia. A partir daqui… o Doom estava já lançado sobre todos nós e o Sonic Blast caminhava para uma conclusão...explosiva…




1000mods deu um enorme concerto, tocaram como se não houvesse amanhã, deixaram o sangue nas cordas. Tal como os apaixonados, os quatro integrantes estavam entregues de alma e coração ao público do Sonic. 




Não houve amor platónico e estava derramado o frenesim. Stoner grego com vocal expelido de forma ríspida a condizer com o espírito vagueado e groovy. Vaguear desmedido a prometer viagens descabidas a alta velocidade. Este é um dos grandes nomes do Stoner e desde 2006 que conta com 3 álbuns e 3 Eps.






O trio alemão dos Kadavar subiam ao palco naquela que seria a sua segunda passagem em Moledo. Visitaram-nos e trouxeram um novo presente, apresentando o seu último álbum “Rough Times” de 2017. 








De visual exc̻ntrico e digno das antigas glorias do rock, arrebentaram com tudo! Foi um mandar gasolina para a fogueira, que tal como pretendido, exaltou os ̢nimos. De Rock vincadamente inspirado nos anos 70, trazia um pouco de tudo Рstoner, psicad̩lico, hard rock, heavy metal, que capacitou todo tipo de rea̤̣o que se possa imaginar quando se quer cometer atos selvagens. Comparam-nos com os Led Zeppellin, com os Black sabbath e de fato verifica-se a ess̻ncia destes.


Todo aquele sentimento de presenciar um grande rock star estava lá e estava para ficar…pelo menos 1 horita, muito bem preenchida.







É escusado dizer que o que veio a seguir também tinha natureza explosiva, já havia dito que isto aqui seria sempre a rebentar - Earthless!






 Só mesmo para manda-nos todos ao caixão com esses abusos musicais. Guitarra a comer com todos em ritmo absurdo. Pesado! Solos de inicio ao fim sem medo de levar o pessoal aos trambolhões, que influenciados por esta violência descabida, se aguentavam de pernas bambas para mandar cabeçadas no que houvesse a frente. Instrumental alucinante, a debandar heavy metal psicadélico com a bateria sempre a dár-lhe.








Linhas musicais que lutavam entre si para ofuscar tempos de sobriedade. Earthless veio de outro sítio, desconhecido da nossa Terra, mas já cá está entre nós desde 2001 e têm muitos trabalhos divulgados. Já com os céus negros apresentaram o seu álbum de 2018 “Black Heaven”.




Balck Wizard a fechar esta edição do Sonic Moledo. Se calhar as mais carismáticas do cartaz, partilharam mais da sua energia contagiante e deram forças aos festivaleiros que se rendiam completamente ao absinto Stoniano. 






Contam com 3 lançamentos bombásticos Fuzzadelic (2015) “Lake fo fire” (2015) e What the Fuzz! (2017). A consolidarem a sua excelente reputação, heavy metal, fuzz, blues, stoner; de tudo na cara e a encerrar com excelência.




Era oficial o fim do cartaz e o Sonic Blast partia com tratamento excepcional. Um evento que esteve impecável em todas as suas tramas, onde nem sequer a praga dos atrasos pode existir graças a um grande trabalho de comunicação entre todos. A descontracção de verão esteve sempre presente e o cenário era de uma beleza descomunal, sendo até o aspecto climático bastante cooperativo. Esta organização parece trabalhar sempre em prol de melhorias e da perfeição sendo por isso sem réstia a melhor aposta Stoner que pode encontrar em Portugal. E num festival que é assim já para o perfeito, é sabido que a organização do Sonic Blast preza por um crescimento contínuo e com isto dito quem sabe do que se pode esperar para 2019!

Texto: Neobert Laureano
Fotografia: Francisco Felício